terça-feira, 16 de agosto de 2011

A Zara e minha indignação

Uma poeira nesse blog que tive que tirar aranhas pra escrever, de tanto tempo que não venho aqui.

Mas algumas vezes sinto tanta vontade de conversar sobre determinado tema, que acabo voltando.
O tema de hoje é a polêmica envolvendo a Zara. Segundo o programa "A liga" de hoje, ela contrata o trabalho de oficinas ligadas ao trabalho escravo de bolivianos.
Assisti alguns vídeos do programa no Youtube antes de tirar minhas conclusões. Mas a pauta aqui nem é o programa. E sim a reação que as pessoas tem a respeito do tema.
No Twitter, reação geral de pessoas dizendo que acham normal. Que ninguém vai deixar de comprar uma marca, porque ela está ligada ao trabalho escravo. E eu morro quando leio esse tipo de coisa. Porque essas pessoas possivelmente são as que falam sobre corrupção, sobre o quanto tudo no Brasil está errado e ninguém move uma palha a respeito.
Sou partidária da minha responsabilidade como cidadã. Se eu boicoto, acredito que posso mudar o cenário. Até porque se todos pensarem na mesma linha de raciocínio, a empresa vai ter que mudar as suas políticas de contratação de oficinas terceiras.

E não adianta vir com discurso de que a Zara não tem nada a ver com isso, porque não tem responsabilidade sobre seus terceiros. Tem, e tem muita. Ela contrata eles. Existe um termo de compromisso que deve ser cumprido. Termos comerciais. Se ela cobra tão caro por suas roupas, parte do valor deve-se à mão de obra e confecção das roupas. É sua obrigação fiscalizar isso. Trabalhei em uma empresa totalmente responsável socialmente que tinha uma Diretoria inteira para cuidar de relações com terceiros. E que olhava de perto. E finalizava contratos com empresas que não faziam parte de suas práticas, missão e valores.

É assim que tem que ser. Boicote a quem compactua com trabalho escravo. Gente, esse assunto é MUITO sério. Muito. Como alguém pode dormir à noite, sabendo que comprou em um lugar onde o trabalho escravo faz parte da cadeia produtiva?
Fiz um trabalho bastante sério de pesquisa desse tema pois trabalho com gestão humana, e era assustador. Algumas oficinas de costura contavam com cães na porta que serviam para intimidar os funcionários e não deixá-los fugir.
E se isso acontecesse com alguém próximo, da sua família? Você acharia correto o trabalho sob condições não dignas, sem alimentação adequada, banheiro, salário, com jornadas que beiram as 15 horas diárias?

Isso é inadmissivel. Eu entendo o fashionismo. Entendo as pessoas que gostam de determinada marca. Entendo a moda porque sou apaixonada por ela e por tudo que envolve estilo. Mas fechar os olhos pra isso é de uma ignorância sem limites.
E vocês podem me chamar de Pollyana. E dizer que outras marcas fazem o mesmo. Pois enquanto ninguém tem provas, eu compro. À partir do momento que descobrem algo errado, nunca mais piso lá de novo. Foi assim com Nike, com Tommy, com Lojas Marisa, com Riachuelo. Não compro mais nada dessas marcas. E me orgulho muito de ser tão honesta comigo mesma.

Acho que o mundo chegou num momento horroroso. Ou as coisas começam a evoluir, ou não sei onde vão parar. Porque sério, esse discurso do "Se ele faz eu também vou fazer, porque se eu fizer diferente nada vai mudar" é patético e sem futuro. E nada nem ninguém vai pra frente se as pessoas continuarem pensando dessa maneira.