quinta-feira, 3 de março de 2011

Se tem uma coisa que aprendi nos últimos anos, foi a vivenciar os meus lutos. Sempre tive muita dificuldade com isso, mulher forte, de família de mulheres fortes que sempre cuidaram de tudo sozinha. Cresci independente e com minha mãe enxugando as próprias lágrimas enquanto fazia o almoço de domingo, dilacerada pelo divórcio com meu pai. Mas era curioso ver o quanto ela tocou a vida, seguiu em frente e reconstruiu tudo de novo, mesmo com a ausência do meu pai.

E aí que cresci com esse modelo de fortaleza. E achava que tudo teria que ser assim. Até minha irmã mais nova morrer. E eu gritar para todos que tudo estava bem. Eu tinha que ser forte, não podia deixar a minha família afundar em tristeza. Omiti tristeza e disse ao mundo que tudo estava ok, até um dia perceber que eu evitava TUDO que me lembrava ela, e dessa forma não estava mais vivendo. Minha rotina era não vivenciar nada que trouxesse lembranças dela.

Então eu fui pra terapia. E a terapeuta resolveu fazer uma coisa aparentemente pequena mas que mexeu muito comigo. Ela perguntou se eu tinha algum objeto da minha irmã comigo. Contei que fiquei com 3 pulseiras dela pq elas tinham um significado muito forte (um dia conto a história aqui). Ela perguntou: "Acha que consegue colocar as pulseiras no pulso e andar com elas todos os dias?". Comecei a chorar na hora, disse que não conseguiria porque seria lembrar da minha irmã 24 horas por dia. Ela só respondeu que eu já lembrava, mas da pior forma. E que andar com as pulseiras me faria acostumar com a idéia de que ela não estava mais ali. De forma dura e difícil, mas necessária para aquele momento.

E aí eu coloquei as pulseiras. Chorei dias direto. Só de mexer o pulso e ouvir o barulho delas, era motivo pra me fazer chorar. Mas os dias foram melhorando a dor. Outras sessões de terapia vieram. Vivi o luto. E hoje acho que é assim que tem que ser. Você precisa viver os lutos. Seja perder alguém para a morte, seja perder alguém para a vida. Chegar no porão das coisas. Acho que só isso te faz renascer. Não te faz fraca. Só te fortalece para os momentos bons que estão por vir.

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