quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Lacanices

Comecei terapia. Quer dizer, voltei.
Fiz aos 26 anos, voltei aos 28 quando perdi minha irmã num acidente, tentei novamente aos 30, e agora aos 32 pelo visto me encontrei numa linha incrível da psicologia: a lacaniana. Uma grande amiga faz essa linha de terapia ha anos e perdeu 10 kg. Porque a ansiedade dela diminuiu de tal maneira, que o peso foi só uma das coisas que mudou. Ela é outra pessoa.

Com Lacan não tem passar a mão na cabeça, falar que errar é humano, ir aos poucos. Com Lacan é pé na porta e soco na cara. É entrar nas profundezas daquilo que você sabe que tá fazendo errado ha anos, mas esconde debaixo do tapete. É descer no porão da vida, rever todas as suas atitudes e círculos viciosos que você insiste manter.

Por enquanto saio chorando de todas as sessões. Todas. Mas assim, como é que se evolui sem sofrimento? Sinceramente acho que não dá pra ser diferente disso.
A terapeuta mais ouve do que fala, mas no que fala é direta. Hoje ela fez uma pergunta que me quebrou as pernas de tal maneira, a ponto de sair atordoada e não lembrar onde eu tinha estacionado o carro.
Porque é assim: ela pergunta, eu fico com uma cara de "Caralho, por que precisei de 32 anos pra ouvir isso?". Então ela diz que a sessão acabou, e eu fico 1 semana pensando no que foi dito, até entrar no consultório dela de novo.

Não tá fácil. E eu sei que vem coisa pior ainda. Mas é assim que eu funciono. Direta e reta.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Eu prometo...

Às vezes entro naquela fase do "Será que ele tá bem?". E aí meu dedo coça pra escrever, pra saber de você, ouvir suas histórias.
Porque foi amor. E não vai embora da noite pro dia. Vai aos poucos. Deixa marca e saudades. Deixa preocupação, e a mosquinha da curiosidade e da vontade de reviver aquelas coisas tão boas que só a gente tinha.
Mas aí lembro da noite que terminamos. Em que passei a madrugada no banheiro vomitando e chorando, fruto da gastrite que atacou quando eu percebi que mais uma vez precisava fechar a porta pra nós.
No dia seguinte eu não fui trabalhar. Não consegui dizer pra minha chefe o motivo de ter passado tão mal. Não consegui contar pra ela que o diagnóstico era um coração partido.

No hospital, enquanto tomava soro pra curar a gastrite, e desejando mais que nunca um remédio que curasse também a dor da minha alma, eu prometi que nunca mais vomitaria e choraria por você de novo. Eu não podia mais permitir um flagelo tão grande por alguém. Ali a promessa foi cumprida. Eu nunca mais caí na tentação de abrir a porta pra gente de novo. O meu dedo coça pra escrever pra você, e eu me lembro daquela tarde no hospital e da promessa de não matar meu estômago aos poucos por você. Então minha lucidez inevitavelmente aparece.

E eu nunca mais chorei. Até hoje, enquanto escrevia esse post.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Contradições

Hoje eu soube de uma fofoca absurda de uma pessoa que nós dois conhecemos. Minha vontade foi te chamar na hora pra contar. Porque era assim que as coisas eram. A gente passava o dia fofocando, falando das pessoas, confabulando teorias e impressões. Naquela cumplicidade absurda que só nós dois tinhamos, e que me fazia te dizer coisas que eu não repetia nem pra mim mesma.

Mas no mesmo dia eu descobri que uma história que você levou 2 anos pra me contar, um conhecido seu com o qual você mantinha a amizade mais superficial do mundo, já sabia.

Amar você sempre foi essa eterna contradição. Uma hora eu parecia ter acesso a um mundo que era só meu e seu.
Mas a decepção de perceber que eu não era tão cúmplice assim, vinha minutos depois.

Que merda. Me pergunto todos os dias por que você fez questão de estragar tudo desse jeito.

domingo, 5 de agosto de 2012

Penso demais e vivo de menos.

Acho que essa é a definição mais precisa do tipo de pessoa que sou.
Talvez no dia que eu resolver fazer tudo sem raciocinar muito, as coisas sejam bem menos pesadas do que hoje são.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

I died a hundred times

Hoje li notícias sobre 1 ano de morte da Amy Winehouse. Lembrei que exatamente nessa mesma data no ano passado tivemos um final de semana inesquecível juntos. Foi tudo tão atípico, tão fora da realidade....a vida é geralmente tão estressante e cheia de horários, compromissos, contas a pagar, trânsito a pegar. Mas naquele final de semana o mundo parou pra nos ver juntos. E felizes.

1 ano depois de ter recebido a notícia da morte da Amy, eu matei você dentro de mim também. Contra minha vontade. Eu tentei fazer com que você permanecesse vivo e seguro, sentado na cadeira do meu coração, esparramado de forma a não ter espaço pra mais ninguém, como foi por muito tempo. Mas eu errei muito, você errou um tanto também. E tudo terminou. E doeu. Doeu demais. Por um bom tempo eu queria que você sofresse. Eu queria que você sentisse o mesmo buraco que eu tive dentro de mim. Eu te desejei o mal, eu chorei e esperneei contra os meus sentimentos que ainda me remetiam àquele final de semana ensolarado e lindo em San Diego, de vez em sempre.

Hoje eu só desejo que você evolua. Como ser humano, como homem. Acho que todas as pessoas precisam de evolução. Com você não seria diferente. Eu só quero que você aprenda com seus erros. Que antes de fazer uma mulher sofrer de novo, pense nos seus atos. Que tenha paciência com as coisas. Que abra sua vida pra ela de forma a não esconder nada. Que confie no amor e no poder que ele tem. Eu sei que um dia você vai conseguir isso. Eu torço pra que isso realmente aconteça.

Não dói mais. Agora você descansa em paz. Agora eu descanso em paz, depois de ter morrido uma centena de vezes.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Eu não enxergo mais o inferno
Que me atraiu
Dos cegos do castelo
Me despeço e vou

(Porque certas músicas dizem mais sobre mim que mil palavras escritas)

terça-feira, 10 de julho de 2012

She's like the wind

Hoje tive uma consulta médica e pra chegar a tempo tive que largar tudo no trabalho. Saí correndo, entrei no carro e acelerei pra chegar a tempo. Cheguei apressada e cheia de preocupações na cabeça. Já no consultório ela me pediu pra aguardar um pouco até ser atendida. Dirty dancing passava na TV. Meus olhos marejaram. Na hora. Então decidi ficar do lado de fora da sala de espera. Porque não queria assistir a cena com a dança final. Não queria ouvir o "I've had the time of my life. And I owe it all to you".  Porque ainda dói relembrar o significado que essa frase teve pra mim.

Que merda é aquele momento em que você relembra o quanto foi incrível e hoje tudo foi reduzido a um monte de lembranças distantes e sem sentido.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Solteira em SP

Uma coisa curiosa em estar solteira em SP é observar o quanto o comportamento masculino mudou de uns anos pra cá. E esse post pode soar extremamente machista, mas vou deixar minha opinião: Acho que grande parte da culpa dos homens serem os bundões que estão, é das mulheres.
Para os homens a vida anda bem fácil. Eles não precisam fazer muita coisa. A mulherada cai matando em cima, liga, faz marcação cerrada, corre pro bar que o cara estará "como quem não quer nada", atende o telefone bêbado de madrugada, leva e busca nos lugares, paga a conta e ainda acha que não faz o suficiente.
Os homens, mal acostumados com tanto mimo e facilidade, não correm mais atrás. Não seduzem mais. Esperam tudo na mão. 2 ocorridos recentes demonstram claramente o que quero dizer. Vamos aos exemplos práticos.

Exemplo 1
Mimadinho que mandou sms dizendo que queria me ver naquele mesmo dia à noite. Minha resposta foi "Pode vir, já estou em casa". Resposta dele: "Pô, você podia vir me buscar, hein".

HAHAHAHAHAHAHA mas olha amigo, não nessa encarnação. Pode ter certeza.
Caramba, onde foi parar o galanteio, a conquista, o empenho em encontrar a pessoa, o esforço? Entra aí o que eu afirmei no começo do texto: Homem tá acostumado a ter mulher correndo atrás, sacrificando a vida. O mercado não está fácil, segundo a maioria. Então pra ter um namorado vale qualquer atitude. Wrong. Não comigo. Se quiser me conquistar vai ter que rebolar muito, meu filho. Tira o carro da garagem e vem aqui me ver, ou nada feito. Uma coisa é fazer isso depois que estiver namorando, e com divisão justa onde cada dia um vai pra casa do outro. Agora na primeira semana o "vem me buscar" já me brochou totalmente. Próximo, please. Gente que quer tudo na mão beijada me dá muita preguiça.

Exemplo 2
Mimadinho que não pôde me encontrar numa sexta feira que combinamos, e no sábado às 09h00 já me acordava com ligação querendo tomar café da manhã em uma padaria charmosinha de SP. Falei que já tinha compromisso (e tinha mesmo, não estava fazendo doce porque não sou disso). Recebi  SMS mal educado me chamando de marrenta e dizendo que se eu não quisesse vê-lo era melhor dizer logo "ao invés de ficar com desculpinha".

HAHAHAHAHAHAHAHA novamente. É claro que ele leu o que não queria na minha mensagem de volta onde o chamei de imbecil que espera que o mundo gire ao redor dele. Depois de ver que ao contrário das outras mulheres eu não baixei a cabeça e corri ao seu encontro, ele revidou com uma mensagem dizendo que estava brincando. Está esperando resposta até agora, é claro.

E é esse o mundo de uma pessoa solteira, gente. Estou desanimada? Não. Acho que gente boa existe por aí. Mas são raros. Não me importo em esperar mais um pouco até que apareça. E até lá os mimadinhos e suas atitudes toscas vão divertindo meu dia, com sua eterna falta de noção.
Acho que o que mais surpreende os homens é a minha atitude "I don't care". E não é porque eu sou marrenta, como o mimadinho 2 me chamou. Mas porque eu não sou e não compactuo com a atitude desesperada feminina em fisgar um homem com unhas e dentes. Se der, deu. Se não der, toco minha vida que vai muito bem e cheia de momentos bacanas. Cansei de ser o macho da relação. Agora ou me conquista, ou tá fora.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Adoro o filme Diário de uma paixão. Assisti incontáveis vezes. Acredito muito na premissa principal dele. A de você amar uma pessoa pra sempre. Longe ou perto dela, o amor continuar no seu coração. De você seguir, casar, ter filhos, netos, e morrer com aquele amor escondidinho dentro do coração. Um amor atemporal, acima do bem e do mal.

Já me convenci disso. Que você será a minha história eterna. A que vou contar para todas as gerações da minha existência. E quando perguntarem por que não deu certo, minha resposta será sempre a mesma: "Porque fomos dois grandes idiotas".

segunda-feira, 2 de julho de 2012

...

Estou sem o que escrever. Um monte de coisas acontecendo ao mesmo tempo, mas nada que eu queira dividir aqui. Li um dia desses e concordo plenamente: O bom da vida é viver o impublicável. ;)

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Respeito muito minhas lágrimas. Mas ainda mais minha risada.

Se tem uma coisa que aprendi com a maturidade, é a de que nada é permanente na minha vida. Em algumas épocas eu senti tanta tristeza, que achei que fosse morrer. Mas os dias foram passando, a dor foi ficando pra trás e logo eu estava pronta pra outra. Então em tempos atuais, se um momento muito difícil me pega com tudo, aprendi a respeitar o meu luto, meu momento de tristeza e lamento profundo. Me interno no meu quarto, durmo o máximo possível pra não ter que pensar muito e deixar a dor ir embora aos poucos. E com o tempo tudo vai se ajeitando. Antes eu me obrigava a levantar, me obrigava a ser forte, me forçava a manter a cabeça erguida. Hoje meu autoconhecimento é suficiente pra me fazer só esperar.

No final de semana retrasado eu passei 14 horas por dia na cama dormindo pra esquecer. Mas ao contrário de muitas vezes na minha vida, sem sofrimento. Sem cobrança pra levantar e seguir em frente. Eu sabia que era uma fase e ia melhorar. Eu só precisava respeitar aquele momento.

E melhorou. No final de semana passado eu já estava o dia todo na rua de novo comprando coisas pro meu apartamento novo (nem tão novo, já moro nele há 6 meses mas a impressão que tenho é que vou levar o resto da vida pra conseguir decorar ele todo). Participei de festa junina, jantei fora, fui ao cinema.

E a vida começa a tomar forma de novo. Aos poucos, devagar e sempre.

Respeito aos seus limites: no dia que você aprende a medida ideal, tudo fica mais leve. Porque às vezes a vida exige que você chute a porta e tome decisões. Mas em outros momentos tudo que você precisa fazer é sentar e esperar a dor passar pra seguir em frente.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

I miss you

Madonna, Gaga, Katy Perry, J.Lo, Kylie Minogue. Todo mundo sabe que adoro um pop desde sempre, mas ela é minha diva maior. Não tem pra ninguém no meu coração. Conheço todas as músicas, ouço os álbuns dela com frequência.

Mas essa música....é um amor muito incondicional. Desde que ela lançou esse último álbum não tem uma semana que essa música não entre na playlist. A letra é linda, o ritmo, a forma como ela interpreta a canção. E essa maldição que é você querer tirar alguém do coração e saber que terá um longo caminho até fechar esse ciclo. Até lá vai arder da exata forma que ela canta.


(Hoje tá mais difícil. Mas eu já sabia que alguns dias seriam piores que outros. Bola pra frente.)

sábado, 23 de junho de 2012

Da hipocrisia e outras drogas

Ontem li esse texto aqui:
http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2012/06/18/ostentacao-diante-da-pobreza-deveria-ser-crime-previsto-no-codigo-penal/ que trata de ostentação vs arrastões que estão acontecendo em restaurantes chiques de SP.
Inicialmente achei que o texto mostra de forma bem efetiva o quanto algumas dondoquinhas só conseguem olhar para o próprio umbigo, mas por outro lado algumas colocações feitas são muito pertinentes e me trouxeram uma conclusão bem óbvia perante um cenário que vejo no Brasil hoje: O de que vivemos um momento onde você precisa ser um falso modesto pra ser considerado uma pessoa normal. Precisa comprar roupas simples, ter um celular barato, andar a pé (ou no máximo de bicicleta). Viajar pro exterior? Vá, mas não espalhe a notícia. Ou vão pensar que você está de exibicionismo. É preciso ser modesto, é preciso viver modestamente pra ser valorizado como um ser humano digno.

Tá, mas e se eu quiser comprar aquela bolsa que eu adoro e trabalhei 12 horas por dia pra ter direito a comprar? E se é um sonho eu comprar um sapato que eu acho bonito, que me deixa bonita, e se eu quiser o smartphone e toda a tecnologia que ele traz? Eu não posso? Eu preciso trabalhar dignamente e feito uma louca mas não posso cogitar a idéia de viajar o mundo o quanto o meu dinheiro permitir, porque ter acesso a novas culturas é algo que me enobrece como pessoa?
Eu odeio a falsa modéstia. Eu sei que existe futilidade, eu sei que as pessoas estão cada dia mais voltadas ao ter e não ao ser, mas e se eu também tenho desejos consumistas? Vou deixar de ser um ser humano em evolução se reconhecer que eles também me fazem feliz? Eu não posso ajudar pessoas, evoluir, crescer, apoiar outras pessoas no seu crescimento, se eu não praticar a arte do desapego material?

Eu sei lá, o mundo tá muito hipócrita. E eu não vou fazer parte disso. Meu direito de ir e vir e fazer aquilo que me dá vontade não vai dar lugar ao de um ser humano que precisa abrir mão de tudo pra se fazer uma pessoa do bem.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Último romance

Essa noite tive um sonho bom com você. Que me fez ficar triste percebendo o quanto é difícil quando só o inconsciente lembra de coisas boas. Los Hermanos tem razão toda vez que canta que o esforço pra lembrar é vontade de esquecer. 

domingo, 17 de junho de 2012

E por isso a gente terminou

Um ex namorado tinha uma teoria sobre as nossas brigas. Ele dizia que por mais que você odeie a pessoa depois de uma grande discussão, por mais que você não queira saber de conversa, termine e jure pra si mesma que nunca mais vai voltar àquele relacionamento de novo, o tempo é o senhor de tudo. 1 semana depois a raiva é menor, 15 dias depois seu coração já não guarda mágoa. 1 mês depois você já nem lembra porque brigaram. E eu voltava. Eu sempre voltava pra ele depois que a raiva passava. Por um bom tempo sua teoria sobre brigas, desencontros e encontros fez muito sentido.

Ele só não contava com um aspecto para a teoria: O de que cada vez que eu voltava, um pouco do que eu sentia por ele ficava pra trás. Quando você ouve coisas muito difíceis, quando tantas ofensas são ditas, o amor não volta o mesmo. Ele volta menor e muito fragilizado. E foi assim por um bom tempo. Idas e vindas, ofensas e promessas de nunca mais reatar, até o dia que cansada de tudo eu não voltei mais. E a teoria dele perdeu totalmente o sentido.

As pessoas esquecem que tudo aquilo que não é regado, não é equilibrado, não tem diálogo e é baseado em brigas e desentendimentos contínuos, acaba. Por mais amor que exista, por mais admiração e carinho. Um dia fica impossível continuar.

E essa é uma das verdades mais tristes e absolutas da vida.  :(
 


quarta-feira, 13 de junho de 2012

Cara valente


Hoje o shuffle do meu Ipod não poderia ter escolhido melhor.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Casos inacabados

Tem gente que vai ficando na nossa vida. A gente conhece, se envolve, termina, mas não coloca um ponto final. De alguma forma a coisa segue. Às vezes, na forma de um saudosismo cheio de desejo, uma intimidade que fica a milímetros de virar sexo. Em outras, como sexo mesmo, refeição completa que mata a fome mas não satisfaz, e ainda pode causar dor de barriga. Eu chamo isso de caso inacabado.


Minha impressão é que todo mundo tem ou teve alguma coisa assim na vida. Talvez seja inevitável, uma vez que nem todas as relações terminam com o total esgotamento emocional. Na maior parte das vezes, temos dúvida, temos afeto, temos tesão, mas as coisas, ainda assim, acabam. Porque o outro não quer. Porque os santos não batem. Porque uma terceira pessoa aparece e tumultua tudo. Mas o encerramento do namoro (ou equivalente) não elimina os sentimentos. Eles continuam lá, e podem se tornar um caso inacabado.

Isso às vezes acontece por fraqueza ou comodismo. Você sabe que não está mais apaixonado, mas a pessoa está lá, dando sopa, e você está carente... Fica fácil telefonar e fazer um reatamento provisório. Se os dois estiverem na mesma vibração – ou seja, desapaixonados – menos mal. Mas em geral não é isso.

Quase sempre nesse tipo de arranjo tem alguém apaixonado (ou pelo menos, dedicado) e outro alguém que está menos aí. A relação fica desigual. De um lado, há uma pessoa cheia de esperança no presente. Do outro, alguém com o corpo aqui, mas a cabeça no futuro, esperando, espiando, a fim de algo melhor.

Claro, não é preciso ser psicólogo para perceber que mesmo nesses arranjos desequilibrados a pessoa que não ama também está enredada. De alguma forma ela não consegue sair. Pode ser que apenas um dos dois faça gestos apaixonados e se mostre vulnerável, mas continua havendo dois na relação. Talvez a pessoa mais frágil seja, afinal, a mais forte nesse tipo de caso. Pelo menos ela sabe o que está fazendo ali.
minha observação sugere, porém, que boa parte dos casos inacabados não contém sexo. A pessoa sai da sua cama, sai até da sua vida, mas continua ocupando um espaço na sua cabeça. Você pode apenas sonhar com ela, pode falar por telefone uma vez por mês ou trocar emails todos os dias. De alguma forma, a história não acabou. A castidade existe, mas ela é apenas aparente. Na vida emocional, dentro de nós, a pessoa ainda ocupa um espaço erótico e afetivo inconfessável.


Esse tipo de caso inacabado é horrível. Ele atrapalha a evolução da vida. Com uma pendência dessas, a gente não avança. Você encontra gente legal, mas não se vincula porque sua cabeça está presa lá atrás. Ou você se envolve, mas esconde do novo amor uma área secreta na qual só cabem você e o caso inacabado. A coisa vira uma traição subjetiva. Não tem sexo, não tem aperto de mãos no escuro, mas tem uma intimidade tão densa que exclui o outro – e emocionalmente pode ser mais séria que uma trepada. Ainda que seja mera fantasia.

A rigor, a gente pode entrar numa dessas com gente que nunca namorou. Basta às vezes o convívio, uma transa, meia transa, e lá está você, fisgado por alguém com quem nunca dormiu – mas de quem, subjetivamente, não consegue se esquivar. Telefona, cerca, convida. Estabelece com a pessoa uma relação que gira em torno do desejo insatisfeito, do afeto não retribuído. Vira um caso inacabado que nunca teve início, mas que, nem por isso, chega ao fim. Um saco.


Se tudo isso parece muito sério, relaxe. Há outro tipo de caso inacabado que não dói. São aquelas pessoas de quem você vai gostar a vida toda, cuja simples visão é capaz de causar felicidade. Elas existem. Você não vai largar a mulher que ama para correr atrás de uma figura dessas, mas, cada vez que ela aparecer, vai causar em você uma insurgência incontrolável de ternura, de saudades, de carinho. O desejo, que já foi imenso, envelheceu num barril de carvalho e virou outra coisa, meio budista. Você olha, você lembra, você poderia querer – mas já não quer. Você fica feliz por ela, e esse sentimento é uma delícia.

Para encerrar, uma observação: o alcance e a duração dos casos inacabados dependem do momento da vida. Se você está solto por aí, vira presa fácil desse tipo de envolvimento. Acontece muito quando a gente é jovem, também se repete quando a gente é mais velho e está desvinculado. Mas um grande amor, em qualquer idade, tende a por as coisas no lugar. Uma relação intensa, duradoura, faz com que a gente coloque em perspectiva esses enroscos. Eles não são para a vida inteira, eles não determinam a nossa vida. Quem faz diferença é quem nos aceita e quem nós recebemos em nossa vida. O que faz diferença é o que fica. O resto passa, que nem um porre feliz ou uma ressaca dolorosa.

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Na coluna do Ivan Martins (Revista Época dessa semana). Um texto que todos precisamos ler de vez em sempre. Boa semana. <3


domingo, 27 de maio de 2012

Olhos nos olhos




Quando talvez precisar de mim

'Cê sabe que a casa é sempre sua, venha sim

Olhos nos olhos, quero ver o que você diz

Quero ver como suporta me ver tão feliz


(Qualquer semelhança com a vida real não é mera coincidência. Chico Buarque e suas letras que cantam minha vida)

Boa semana. :)





quinta-feira, 24 de maio de 2012

20 meses

Ser independente é ser livre. Ganhar seu próprio dinheiro e pagar suas contas, é ser livre. Não precisar dar satisfação ao mundo é ser livre. Expor suas opiniões sem medo do que vão achar, é ser livre.

Mas nenhum tipo de liberdade se compara ao fato de perceber que seu coração não está mais aprisionado ao de outra pessoa. Acordar e dormir sem pensar nele 100 vezes ao dia, não ter mais vontade de correr pra mandar uma mensagem toda vez que algo de bom ou ruim acontece, não ligar a imagem dele a qualquer coisa que eu veja, não me importar mais em saber se ele está triste ou feliz.

É isso. Não me importar. É a maior e mais difícil liberdade a ser conquistada. E finalmente consegui. :)

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Me entende, eu não quis, eu não quero, eu sofro, eu tenho medo, me dá a tua mão, entende, por favor. Eu tenho medo, merda!Ontem chorei. Por tudo que fomos. Por tudo o que não conseguimos ser. Por tudo que se perdeu. Por termos nos perdido. Pelo que queríamos que fosse e não foi. Pela renúncia. Por valores não dados. Por erros cometidos. Acertos não comemorados. Palavras dissipadas.Versos brancos. ...Chorei pela guerra cotidiana. Pelas tentativas de sobrevivência. Pelos apelos de paz não atendidos. Pelo amor derramado. Pelo amor ofendido e aprisionado. Pelo amor perdido. Pelo respeito empoeirado em cima da estante. Pelo carinho esquecido junto das cartas envelhecidas no guarda- roupa. Pelos sonhos desafinados, estremecidos e adiados. Pela culpa. Toda a culpa. Minha. Sua. Nossa culpa. Por tudo que foi e voou. E não volta mais, pois que hoje é já outro dia. Chorei. Apronto agora os meus pés na estrada. Ponho-me a caminhar sob sol e vento. Vou ali ser feliz e já volto.




Caio F. Abreu
Eu hoje joguei tanta coisa fora. Eu vi o meu passado passar por mim. Cartas e fotografias, gente que foi embora. A casa fica bem melhor assim.