segunda-feira, 28 de julho de 2008

Amor de diva

Li no blog da Vi. E nunca um texto disse tanto sobre mim quanto esse.

Às seis horas da manhã, na 5ªa avenida.
Em frente à Tiffany's.
Nenhum carro na rua.
Apenas o táxi que me deixou ali.
Sozinha.
Tudo em volta, meio cinza.
Meu pretinho básico, minhas pérolas e um ar de diva.
Tiro de um pacote cor de pardo, que em um trocadilho barato poderia ser prado, um biscoito Pretzel's.
Assim, como as marcas, os apóstrofos com seus genitivos... Ah eu não tenho genitivos.
Ninguém me possui.
Não têm apóstrofos flutuando sobre minha cabeça.
Nem uma aliança em um de meus dedos.
Não há gaiola me prendendo, a não ser a que eu mesma construí.
Eu olho pela vitrine, as jóias suspensas, prateadas... Sim, dourado me cansa. São tão óbvios. Apenas a prata. Brilho de lua e mais nada.
Então caminho pelas ruas. O chão e tudo em volta, dorme.
Sei que daqui a uns minutos, todos acordarão deixando aquela rua feia e invadida.
Por isso, às vezes sonho em ter uma varanda, com mesa branca, jarra transparente com suco de laranja e frutas em baixela de prata.
Varanda no alto do prédio. Para ver o formigueiro enquanto acordo em paz.
Meus olhos têm delineador. Se não, ninguém repararia como são bem desenhados.
Não é disfarce, é que as pessoas não têm tempo mais de reparar em meus olhos. Por isso eu os marco e os trago bem traçados assim.
Em meus lábios, só um batom suave, sem marcar colarinho, que é para meus amantes não terem medo de mim.
Para caminhar na 5ªa avenida, precisa-se ainda de mechas imprevisíveis nos cabelos, para os homens ficarem fumando nas varandas enquanto se perguntam: qual é a cor dos seus cabelos? Por que se nem a cor do cabelo sabem, o que será que também ainda não descobriram dessa diva?
Luvas não. Nunca. Porque mãos macias denotam ócio, e ócio lembra tardes inteiras de amor sem atender telefones.
As costas, em pêlo. E todo o resto coberto. Os sapatos, feitos para mim. Iguais, só a de princesa oriental, escondida em casa com lâmpadas vermelhas.
Uma bolsa pequena, que não traga truque, somente um perfume barato, como baratos são os caminhos para a felicidade.
Um táxi pára. Na rua, pombos na calçada se assustam. É um homem. O único que conseguiu descobrir o segredo da diva atrapalhada: um misto de luxo e periferia.
Uma coisa meio Audrey e meio Gabriela. Um misto de Madame Bovary e Iracema.
Algo de quinta avenida em uma menina cravo e canela. Hemingway em uma tupiniquim.
Assim sou eu: uma diva, atrapalhada. Com sapatos finos, porém sempre descalça.
Com jóias, porém sempre nua. Com casa e varanda, porém sempre na rua.
Uns braços para diva? Somente os mais fortes e sem medo de amar.
Somente os mais teimosos sem chance de voltar.
Uma vez amando diva, todos os dias para sonhar.

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